Homenagem da professora Queren, a todos os professores!

EM TEMPOS DE PANDEMIA 

A gente vai crescendo e se apropriando da cultura popular. Minha vó, D. Maria, uma senhora da roça, que só viera para a cidade grande quando já a idade não a favorecia tanto, teve um papel importante nessa minha introdução ao “popularismo”, ensinava-me sempre alguns ditados populares que, hoje, levo-os como receita de viver. 
Um bom brasileiro sabe que “se a vida te der limões, faça uma limonada” é um mantra que deve ser repetido pelo menos três vezes na semana. Mas e quando se trata de um preparo de uma “limonada gourmet”, ou uma “limonada descontruída”? (Aproveito aqui para saudar os Mastechef´’s que fazem do arroz com feijão um glorioso prato digno de alguns dígitos além do que posso pagar em restaurantes super chiques que nem na porta passo para não ficar com vontade). 
Mas não estou aqui para tratar de culinária. Retornemos. Uma “limonada gourmet” talvez tenha alguns ingredientes especiais que torne o suco de limão mais apetitoso que o normal. E só usei esse exemplo para que haja compreensão plena da complexidade do problema que tenho vivido nesses tempos de Coronavírus: eu sou professora em home office. 
Ah... coloca um leite condensado daquela marca lá que todo mundo metonimicamente chama num suco de limão e já vai ter uma limonada diferente. Tenta colocar um professor com um computador de marca barata e um celular com internet de R$29,90 dentro de casa para oferecer aulas à distância e você vai ver o que é um desafio de verdade.  
É logicamente sabido por toda a população que ser professor não é uma tarefa fácil, e digo tarefa no seu sentido mais estrito. Não dá para ser “meio professor” ou um “professor mais ou menos”. Ou você é ou não é! Independentemente daquilo que está escrito naquele diploma guardado num envelope pardo velho lá na gaveta dos documentos.  
Ser professor é lidar com vidas, é entusiasmar os seus educandos numa aula de álgebra e gramática, é ser mãe, médico, psicólogo, amigo. Mas como fazer isso remotamente?  
“Professores, usem a tecnologia”. Abre o e-mail. Testa o Google Classroom, instala o aplicativo. Abre o Teams, “ative o microfone, focalize a câmera”. Experimente o Zoom e tente o Meet! Segue o professor. Ele se reinventa aqui e acolá. Quando vai corrigir as lições recebidas por e-mail, percebe que as fotos estão todas deitadas. Gira à esquerda, gira à direita e “Meu Deus! Não dá para ler nada.”  
Tem o aluno que não tem acesso à internet, tem todos os alunos com dificuldades diversas e tem você, professor, que precisa assistir todos. Ouvi esses dias: “Ninguém falou que seria fácil.”. Ainda bem! Eu ia lá de máscara mesmo só para tirar satisfação com a criatura desumana e mentirosa. 
Em tempos de pandemia, ser professor não é só mais uma tarefa difícil, mas... 
- Mãe! Mãe! Quero fazer xixi. Ô mãããããe!!! 
- Aguenta um pouquinho, filha. Mamãe está escrevendo uma crônica. 
Você achou estranho que ela tenha interrompido a crônica assim? Isso porque não assistiu o drama na aula de gramática em que ela chorava e gritava “Eu quero chocolate!”. Ainda bem que os alunos compreenderam, embora todos tenham ficado também com uma imensa vontade comer CHO-CO-LA-TE. 
O professor também tem família, tem ansiedade, medo, estresse e muita dificuldade. Fomos ensinados a usar lousa, giz e livro. Já nos achamos o máximo quando agendamos a sala de multimídia da escola e conseguimos projetar uma aula no Data Show. Contudo, enfrentamos mais esse desafio e seguimos. 
Parabéns, professor. Ser professor em tempos de pandemia é como fazer diariamente uma limonada, porém, sem o limão.  

Dedico esta crônica a todos os meus colegas professores que estão dando tudo de si para que a Educação ainda ocorra qualitativa e significativamente. 
Abraços de uma professora em tempos de pandemia. 
Queren S. Serafim. 

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